Tenho aqui em minha mesa de trabalho uma pequena coruja de cerâmica, pintada de prata envelhecida, travestida de arquiteto, embaixo de uma das asas, uma pasta, um esquadro e projetos enrolados na outra, elegante, traja um sobretudo e gravata borboleta. Na base da pequena escultura, muito bem trabalhada por sinal, a palavra “arquiteto”.
Não me lembro quando e onde a comprei, tão pouco seu valor.
Recordo na faculdade ouvir por vezes que a coruja é o animal símbolo da arquitetura. Se verdade, não sei.
O fato é que frequentemente me pego trocando olhares com esse inofensivo adorno, para não dizer das vezes que divago com a dita cuja sempre quando estou desenhando. Típico do fenótipo dessa ave de rapina com hábitos crepusculares, seu olhar direto, marcante, com alto poder de penetração, intrigante, estampados em uma face de aparente inocência, vêem me provocando ultimamente.
Sem questões de ordem respaldadas na simbologia animal e seu estudo, entretanto, lembrando do uso do corvo nos bestiários medievais, presença bastante marcante neste período, onde lições de moral eram descritas relacionando os animais e suas características físicas atribuindo-os qualidades e defeitos, bênçãos e pecados, os quais o homem deveria respeitar, refugando ou aceitando tais símbolos, até a entrada do Iluminismo que rompe e rejeita diversos traços culturais de épocas anteriores, confesso minha simpatia por essa avezinha.
A crendice popular atribui ser a coruja a emissária da morte, de mau agouro, ao seu piar e esvoaçar próximo de um local, a morte seria evento vindouro, visitantes frequentes de igrejas, estavam ali apenas para se banquetear de pequenos insetos voando ao redor das lamparinas de azeite, de vôo silencioso, raramente erram um ataque a pequenos roedores, engolindo sua presa inteira e regurgitando seus restos, pelos e ossos fragmentados.
Não sou estudioso de corujas e nem tenho porque ser, apenas conhecimentos perdidos na partição inútil de nosso HD encefálico que resgato aqui.
O que me chamou atenção a muitos anos, quando ainda criança tendo meu primeiro contato com uma coruja, destaco o fato de possuírem olhos frontais, semelhantes aos humanos e diferente dos demais pássaros que possuem olhos laterais, e a capacidade de girar sua cabeça a cento e oitenta graus em relação ao restante do corpo.
Passo ao largo com boa parte da simbologia e crenças, mas sem deixar de creditar valor no lado bom da história, o que adorei saber, ainda na infância, é ser a coruja o símbolo da sabedoria e inteligência e ser o professor dos animais.
Tem muita ficha caindo nesses últimos tempos.
De forma totalmente involuntária venho modificando minha postura frente a vida, basicamente frente as pessoas que relaciono diariamente, pessoal e profissionalmente.
E digo, observe mais a vida, gire sua cabeça cento e oitenta graus, penetre seu olhar nas pessoas que te cercam, observe-as ainda mais, aprofunde sua análise nas questões e detalhes profissionais, regule seus hábitos e fale menos do acha que deve, talvez o necessário seja suficiente.
Regalos da tia coruja.
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