sexta-feira, 24 de setembro de 2010

José de barro

João é de barro, é pássaro arquiteto, planeja voando. O homem é de concreto, é arquiteto sem asas, caminha, tenta voar nos pavimentos de sua pobre criação, batizada artística.
O pássaro João é de barro, fundamenta sua obra de arte em galhos legitimados pela natureza. O homem é de concreto, escava a natureza e finca sua obra pobre de arte.
O barro é João, sua morada está na altura que Deus o pôs, o concreto é arte ficcional, artificial, é homem empuleirado em balcões de frieza estrutural.
O João é cria dadivosa, o homem é José, criatura desnorteada, acha que voa, pensa que voa.
Quem é o arquiteto ?
Sou eu penso, José cimento, barro cinza, quadrado, limitado, odiado. Será sim.
João é barro puro, purificado em inspiração, arte entremeada em ramos, é estrutura calmamente executada, desenhada pela sapiência divina, já José, pensa dominar, pobre cálculo mundano de estrutura nascida frágil.
Pudera eu homem, ser arquiteto José por um dia, voar e ser artífice, lambuzar meu bico boca e embarrear os galhos da sensatez, pairar na criação da morada amarronzada que tanto me encantava quando ainda criança se fez.
Pudera um dia eu ser, homem arquiteto de barro, 
ser João, João de barro, pudera.

sábado, 11 de setembro de 2010

Olhos de coruja

Tenho aqui em minha mesa de trabalho uma pequena coruja de cerâmica, pintada de prata envelhecida, travestida de arquiteto, embaixo de uma das asas, uma pasta, um esquadro e projetos enrolados na outra, elegante, traja um sobretudo e gravata borboleta. Na base da pequena escultura, muito bem trabalhada por sinal, a palavra “arquiteto”.
Não me lembro quando e onde a comprei, tão pouco seu valor.
Recordo na faculdade ouvir por vezes que a coruja é o animal símbolo da arquitetura. Se verdade, não sei.
O fato é que frequentemente me pego trocando olhares com esse inofensivo adorno, para não dizer das vezes que divago com a dita cuja sempre quando estou desenhando. Típico do fenótipo dessa ave de rapina com hábitos crepusculares, seu olhar direto, marcante, com alto poder de penetração, intrigante, estampados em uma face de aparente inocência, vêem me provocando ultimamente.
Sem questões de ordem respaldadas na simbologia animal e seu estudo, entretanto, lembrando do uso do corvo nos bestiários medievais, presença bastante marcante neste período, onde lições de moral eram descritas relacionando os animais e suas características físicas atribuindo-os qualidades e defeitos, bênçãos e pecados, os quais o homem deveria respeitar, refugando ou aceitando tais símbolos, até a entrada do Iluminismo que rompe e rejeita diversos traços culturais de épocas anteriores, confesso minha simpatia por essa avezinha.
A crendice popular atribui ser a coruja a emissária da morte, de mau agouro, ao seu piar e esvoaçar próximo de um local, a morte seria evento vindouro, visitantes frequentes de igrejas, estavam ali apenas para se banquetear de pequenos insetos voando ao redor das lamparinas de azeite, de vôo silencioso, raramente erram um ataque a pequenos roedores, engolindo sua presa inteira e regurgitando seus restos, pelos e ossos fragmentados.
Não sou estudioso de corujas e nem tenho porque ser, apenas conhecimentos perdidos na partição inútil de nosso HD encefálico que resgato aqui.
O que me chamou atenção a muitos anos, quando ainda criança tendo meu primeiro contato com uma coruja, destaco o fato de possuírem olhos frontais, semelhantes aos humanos e diferente dos demais pássaros que possuem olhos laterais, e a capacidade de girar sua cabeça a cento e oitenta graus em relação ao restante do corpo.
Passo ao largo com boa parte da simbologia e crenças, mas sem deixar de creditar valor no lado bom da história, o que adorei saber, ainda na infância, é ser a coruja o símbolo da sabedoria e inteligência e ser o professor dos animais.
Tem muita ficha caindo nesses últimos tempos.
De forma totalmente involuntária venho modificando minha postura frente a vida, basicamente frente as pessoas que relaciono diariamente, pessoal e profissionalmente.

E digo, observe mais a vida, gire sua cabeça cento e oitenta graus, penetre seu olhar nas pessoas que te cercam, observe-as ainda mais, aprofunde sua análise nas questões e detalhes profissionais, regule seus hábitos e fale menos do acha que deve, talvez o necessário seja suficiente.

Regalos da tia coruja.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Gentileza gera gentileza




Alguns meses atrás observei essa frase em um adesivo no vidro traseiro de um automóvel.
Uma citação simples com apenas três palavras, mas carregada de significado.
A princípio gostei da idéia, nada mais que uma representação abstrata de algo que poderia pôr em prática algum dia.
Dois farois de trânsito a frente, o mesmo passa desapercebido, ou propositadamente, e não para frente a faixa de pedestres ao sinal gestual de um transeunte. Acreditei que o condutor do veículo fizesse jus ao que plantava.
Questiono a intenção em detrimento ao ato cometido.
Não julguei, tão pouco me preocupei se o motorista era, estava, ou mesmo cometeu tal indelicadeza seja qual motivação justificava o ato.
Continuei meu caminho com a frase fixa na cachola, atribuindo a mesma, a carga de significado outrora creditada.
No dia seguinte, esperando a chegada do elevador em um shopping da cidade, ao meu lado, a mãe (imaginando ser pela semelhança física) e duas adolescentes tagarelando entusiasmadas com o desejo consumista que as pertence por etariedade.   
Antes mesmo da abertura total da porta, uma das meninas praticamente salta em direção ao interior do elevador, quando a mãe a agarra pela camisa puxando-a de volta em um movimento ninja.
     - espere este senhor entrar, ele chegou primeiro que você ! disse a mãe em tom repreendedor.
Estendi o braço sinalizando que ela poderia entrar primeiro. Foi quando iniciou um pequeno diálogo extendido ao interior da cabine.
     - o senhor entra primeiro, não foi essa educação que dei as minhas filhas.
     - faço questão que a senhora entre primeiro com elas.
     - o senhor me desculpe.
     - é natural da idade, estão ansiosas para as compras, não se preocupe.
     - obrigado, o senhor foi gentil.
Sem querer ser moralista tão pouco piegas, sapequei a frase lida no dia anterior.
     - gentileza gera gentileza.
Foi quando para minha surpresa, ouço a seguinte afirmativa daquela jovem senhora.
     - meu marido tem um adesivo no carro dele com essa frase, mas nem sempre lembra que ela existe.
Confesso que não fiz nenhuma analogia ao motorista do início.
O que aparentemente foi uma passagem cotidiana corriqueira, ou mesmo ridícula no ponto de vista narrativo, e sem nenhuma consequência prática, serviu no entanto para afirmar que:
Gentileza sim ! gera gentileza.
O que era um belo sorriso estampado no rosto daquela menina, rapidamente transformou-se em uma face envergonhada, insegura. Mesmo sabendo e concordando, que a repreenda aplicada pela mãe surtiu efeito imediato, abri um sorriso e fixei olhar nos olhos marejados da garota, onde a recíproca veio de imediato.
Foi a partir desta passagem, como disse, trivial, que venho exercitando cotidianamente minha porção gentil. E confesso seguramente, me sinto bem a vontade quando aplico esse princípio.
O que não fui gentil com meus pais, irmãos, amigos, pessoas próximas ou desconhecidas, o faço hoje.
O que foi apenas uma frase, tornou-se máxima, ao menos para mim.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Sem justificativas

Tudo bem, sem maiores explicações, o termo "blog" ou forma contrata do termo "web log", e outras informações, etc... mas nada disso importa.
Se existe um começo, ele é natural, está iniciado.
Entendo este novo espaço como a maioria o faz, o "papel aceita tudo", a tela, ibidem.
Com uma pitada de ousadia, deixarei aqui um pouco da minha produção textual, sem nenhum elemento motivador específico, sem ambição ou pretensão qualquer. Sem temática, tema ou pauta pré concebida.

Entretanto...

Agradeço inicialmente a vc Monica CR, que mesmo sem saber, se torna a co-responsável pela idéia deste blog.
Data venia, como dito acima, sem maiores pretensões. "Seu reinicio está perfeito."

Sejam todos muito bem vindos !
Obrigado